‘Conhecer
o Japão é visitar o Japão.’ – li isso numa das pesquisas prévias que fiz antes
de visitar esse país do outro lado do mundo, com 12 horas de diferença no fuso
horário.
Uma viagem é uma experiência pessoal e escrever sobre as situações vivenciadas,
as sensações, imagens, cheiros e impressões pode ser difícil. Mas,
me propus a este desafio: registrar os 24 dias que estive no Japão – a Terra do
Sol Nascente.
A
hospitalidade dos japoneses é uma de suas virtudes que mais chamam a atenção e
faz com que você não se sinta um estranho no ninho. Eles têm muito a nos
ensinar... e nós também! Nesta postagem vou relatar minha experiência e visão
como visitante a um país do Oriente, em que a cultura é diversa – algumas vezes
estranha – mas que nos faz refletir sobre nossos hábitos e comportamentos.
A Viagem - Planejando o roteiro
Em
princípio, meu filho e eu tínhamos planejado alugar um carro e fizemos um
roteiro de viagem. Eu já tinha a Permissão Internacional de Dirigir - PID, que
é a habilitação para dirigir no exterior, e meu filho providenciou a dele.
Faltando
três dias para a viagem descobrimos que não poderíamos dirigir no Japão porque
esse país não é signatário da Convenção de Viena, responsável pela PID. Então,
resolvemos providenciar o 'Japan Rail Pass' para nos locomovermos de
trem para outras cidades.
Pelo
fato de não ter voo direto de São Paulo para o Japão – porque o avião não tem
autonomia para ficar tanto tempo no ar, fizemos uma parada em Dallas, num bom
hotel afastado do centro.
Depois
de 3 dias, partimos para o Japão – foram quase 10 horas voando até chegar no
aeroporto de Narita, em Tóquio. As comissárias de bordo da Japan Air Lines,
todas elegantemente uniformizadas, foram muito atenciosas e educadas.
Experimentando o Hotel Cápsula
Experimentando o Hotel Cápsula
Opção de áudio
A aventura de hospedagem num hotel cápsula foi bem inusitada. O 'Nine Hours Hotel' fica no bairro de Asakusa e tem 9 andares. O acesso ao elevador é na rua, que vai para a recepção. Homens ficam separados de mulheres e, ao receber o cartão de hóspede, para cada um é entregue uma sacola com pijama, chinelos, kit higiene e um jogo completo de toalhas.
Os chuveiros e armários ficam num andar e as "camas cápsulas" em outro. São 10 salas de banho e 10 pias, com sabonete líquido, shampoo, condicionador e vários secadores de cabelo. Os hóspedes saem da área das duchas vestindo o pijama neutro e confortável oferecido pelo hotel, pois para acessar os outros andares tanto homens como mulheres utilizam o mesmo elevador.
O
que me agradou foi o vaso sanitário eletrônico: pode-se controlar a temperatura
do assento; tem um botão de privacidade que emite som de água, abafando qualquer
barulho constrangedor rs...; tem 2 opções de ducha e, ao se levantar, a
descarga e limpeza são automáticas. Bem prático e higiênico! Sempre muito
limpo.
É
preciso compreender a logística do hotel para não ficar indo de um andar para o
outro, pois dentro das cápsulas não se pode fazer barulho e não tem apoio para
nada! Só tem entrada de USB para carregar o celular.
Nas
áreas em comum tem lounge com bancada para um lanche rápido e outra sala
com mesas de leitura ou para apoio de notebooks. No térreo tem um
café-restaurante com mesinhas e sofás.
O
hotel fica em frente a uma galeria, cuja entrada tem um arco inspirado na
arquitetura de um pagode, que são os vários templos encontrados em várias
cidades. O país tem uma orientação espiritual xintoísta, caracterizada pela
adoração a divindades que representam as forças da natureza, e pela ausência de
escrituras sagradas, teologia, busca da salvação, prescrições de conduta e
mandamentos.
Passeando
pelas ruas de Asakusa
Existem
muitas lojas e galerias que vendem quimonos, chapéus, enfeites de casa,
bijuterias, artesanato, tamancos típicos, badanas, cortinas artesanais de bambu
ou tecido, e outras variedades de lembrancinhas.
Nas
ruas, praticamente a cada esquina, tem uma máquina de bebidas geladas ou quentes. Vi várias lojas de conveniência, chamadas de ‘Konbine’ e vendem de tudo
– desde ‘obentô’, que são porções de refeição variada e são bem
procuradas. Tem lojas com corredores imensos e prateleiras de um só tipo de
produto: salgadinhos, doces, snacks, bebidas, produtos de higiene,
dentre tantos outros artigos de primeira necessidade ou guloseimas.
Passeando
pelas ruas, estão espalhadas maquininhas de jogos tipo caça-prendas e que
vendem de tudo: desde brinquedos, até roupas – é a maior sensação no Japão, sem
limite de idade!
Caminhando,
encontramos templos suntuosos e outros bem menores, alguns dentro dos
cemitérios que ficam espalhados pela cidade em pequenos lotes - as lápides
sempre ficam num lugar mais alto que o nível da rua.
Faixa
de pedestres em Shibuya
Visitando
o bairro de Shibuya, em Tóquio, passei pelo maior cruzamento do mundo, com
faixas de segurança para travessia de pedestres em formato de X - muitas
pessoas indo e vindo, misturadas às bicicletas, sem que tropecem ou esbarrem
umas nas outras - é um espetáculo ímpar!
Na
estação de trem que leva a Shibuya, tive a chance de ver a estátua de bronze do
cachorro, que inspirou o longa ‘Sempre ao seu lado’, com Richard Gere. No Japão
da década de 1930, o cão Hachiko passou cerca de 10 anos esperando seu dono
voltar do trabalho. Hidesaburo Ueno era um professor universitário que vivia em
Tóquio e, em 1923, ganhou de presente um cachorro da raça Akita – símbolo de
sorte e orgulho no país oriental.
Nesse
bairro estão concentradas galerias imensas, com inúmeros restaurantes e lojas
de roupa e acessórios. É uma região com muitos jovens e as meninas se vestem
caracterizadas como personagens dos desenhos animados e das revistas de Mangá -
verdadeiras bonecas vivas!
É
comum ver os japoneses em traje de gala, que é o quimono - tanto que existem
lojas alugando esses trajes para homens e mulheres. Os residentes sempre têm
seu próprio quimono e se orgulham de vestir para os passeios.
O
que me impressionou foram os espaços com jogos eletrônicos, chamados 'Pachinko'
- literalmente insano! São várias máquinas enfileiradas, com um som tão alto
que fica impossível permanecer no lugar por mais de 5 minutos. Além do barulho
ensurdecedor, o cheiro de cigarro é sufocante... Bizarro!
Outra
curiosidade é o uso de máscaras tipo cirúrgicas, cobrindo o nariz e a boca. Uma
das razões é, de fato, a pessoa estar resfriada e não contaminar lugares
públicos. Outra razão é a de se proteger de possíveis contágios nas ruas, lojas
e no transporte. Mas, entre jovens, é um pouco de modismo, tanto que se
encontram máscaras coloridas, para combinar com as roupas.
Zoológico
em Ueno
Um
bom passeio é a visita ao Ueno Zoological Gardens: tem elefantes, tigre asiático, urso polar e ursos marrons de
outras espécies, foca, pinguins, girafas, hipopótamos, rinocerontes, bisão,
aves de variadas espécies e, claro, a panda! O espaço é muito limpo, apesar de
não ter lixeiras espalhadas, não se vê nenhum tipo de resíduo no chão. Aliás,
lixeiras não são fáceis de encontrar, a não ser ao lado de algumas máquinas de
bebida (nem todas têm containers de reciclagem).
Num dos passeios li uma placa
com os dizeres “Leve seu lixo para casa!”. Quando se encontra alguma lixeira,
ela é específica para garrafas de plástico e latas – não se pode descartar embalagens
de papel. O Japão aproveita 98% dos resíduos coletados e, somente 2% é lixo
orgânico e descartado em locais apropriados. Isso demonstra o quanto são
conscientes de que é necessário ser responsável com o lixo produzido, tanto que
nas escolas, no final do período de aula, são escaladas para limpar as
dependências do prédio: diariamente, o educador determina quem vai varrer o
pátio, limpar a sala de aula e, também, o banheiro!
Impressionante
como as calçadas são bem conservadas! Em todas as cidades que visitei, o
calçamento é plano, com rebaixamento para cadeirantes ou pessoas com
dificuldade de locomoção e, o mais interessante são as marcações nas calçadas
para orientar pedestres com deficiência visual. Nos semáforos ouve-se o som de
pássaros indicando sinal verde para travessia – a acessibilidade existe em
todos os lugares... O mais incrível é que, em 24 dias que estive no Japão, não
vi nenhum cego andando pelas ruas!
Sky
Tree
No
bairro de Sumida, fica a Sky Tree - uma vista panorâmica imperdível. É uma
torre de 350m de altura, de onde se vê a cidade em 360 graus. Disponibilizam
vários painéis, que quando clicados aproximam a imagem da parte da cidade que
se está vendo. No andar térreo, tinha uma exposição com vários produtos com o
tema das Olimpíadas de 2020. O local é um grande complexo de lojas e
restaurantes. Almoçamos por lá.
Passeio
de kart
Pitoresco
é ver a carreata de karts nas avenidas, chamados de 'Mario Kart'. Todos os
‘pilotos’ vestindo fantasias inspiradas nas personagens de Mario Boss.
Curiosidades
de Tóquio
Além
das diversas máquinas de bebidas e caça-prendas espalhadas pela cidade, os
estacionamentos pagos para carros tinham, no máximo, 4 vagas.
Compra-se no mercado apenas um ovo, embalado cru ou cozido. Salgados à base de peixe são sensação: minúsculos caranguejos, peixinhos e lascas de peixe secos, algas, e outros alimentos exóticos da culinária japonesa. Nos mercados tem muita degustação.
Existem
lojas de conveniência aos montes, chamadas de Konbini (7 Eleven, Family
Mart, Lawson Station) concorrem lado a lado – algumas ficam abertas 24
horas, outras disponibilizam mesinhas para as refeições. À noitinha, sempre
passávamos num Konbini para comprar o jantar.
As
ruas são bem estreitas, mas bem extensas, com pequenos restaurantes e muito
comércio. Em alguns pontos, vimos ruas interditadas por conta de construções e
restauração de prédios, com seguranças orientando os pedestres para desviarem
dessas obras – a área estava isolada com placas de metal, avisos e bem
sinalizada, preservando o pedestre de qualquer acidente. Dentro das lojas
existe uma quantidade imensa de mercadorias que até fica difícil saber para
onde olhar – é muita informação e variedade de
produtos.
Os
estudantes passeiam pelos parques e ruas da cidade, em horário de aula, tanto
crianças quanto adolescentes, sempre acompanhados de um monitor. Fomos
abordados por uma turma de estudantes que, timidamente, explicaram o trabalho
de escola que faziam. Os adolescentes costumam parar nas lanchonetes e tomar um
suco à base de tapioca, saborear algodões doce gigantes, comerem um petisco de
peixe frito, ou banana com cobertura colorida no palito.
As
pessoas idosas fazem trabalho voluntário, como varrer as folhas secas
espalhadas pelas calçadas, ou auxiliando as pessoas com dúvida nas estações de
metrô e trem. O lixo seco é separado por tipo e deixado coberto nas calçadas.
No final do dia, os pequenos caminhões passam pelas ruas coletando os resíduos
– o motorista acumula a função de dirigir e coletar esses materiais.
Em
algumas ruas, encontrei máquinas de lavar roupa do lado de fora da casa. Tem
também lavanderias self-service, com máquinas de lavar e secar. Práticas
e fáceis de usar.
Embora
a cidade seja populosa, o trânsito local é bem reduzido, limitando-se a
pequenos veículos de entrega ou coleta de resíduos, ônibus e táxis. Tive a
chance de entrar num táxi – fiquei encantada. O motorista usa terno preto,
camisa branca, sapatos pretos muito bem engraxados, luvas brancas e quepe. Os
bancos são forrados com capas de cor branca, impecáveis. Disponibilizam tablet
com noticiário local e revistas. Embora não falem inglês, são educados e
atenciosos – serviço de primeira classe!
Nos
prédios, as varandas, que aqui usamos como espaço gourmet, são usadas somente
para secar roupas – aliás, o que eu mais vi foram varais de chão ou de parede,
sempre com roupas, lençóis e cobertores pendurados.
Os
quarteirões têm um padrão de arquitetura bem homogênea, tanto nas calçadas,
prédios e na paisagem. Existem jardins espalhados pela cidade, todos bem
preservados e muito bonitos. As floriculturas deixam vasos de plantas nas
calçadas e, pasmem: ninguém mexe.
Nas
lojas de rua, raramente aceitam cartão de débito ou crédito. O dinheiro em
espécie é o mais usado para pagamentos. Dificilmente pegam o dinheiro com as
mãos. Para pagar a conta, coloca-se o dinheiro numa bandeijinha e o troco é
colocado na mesma bandeja. Quando recebem as notas em mãos, contam na sua
frente e agradecem, com uma reverência.
Nos
restaurantes, assim que se senta à mesa, é oferecido um copo de água e toalhas
umedecidas para passar nas mãos. A maioria dos cardápios estavam escritos em
japonês – raramente encontramos cardápios em inglês. Escolhíamos pelas fotos ou
pelos pratos de mentirinha, réplicas fiéis dos pratos servidos de verdade.
Uma
outra curiosidade é o ‘Animal Cafe’. São casas que servem café e, ao mesmo
tempo, você pode acariciar um animalzinho: um gato, um coelho, uma chinchila...
Em outras casas, pode-se ver corujas soltas e apreciar um café ou bebida,
vendidas nas ‘Vend Machines’.
Nesse
período de viagem ao Japão, estava acontecendo o Campeonato Internacional de Rugby
– vi muitas torcidas organizadas nos trens, vestindo a camiseta do time
favorito.
Estações
de trem
Existem
inúmeras linhas de metrô, que levam a várias regiões. É extremamente complexo,
mas entendendo as linhas, classificadas por cores, até que fica fácil usar e a
locomoção é rápida, respeitando os horários pré-fixados. Não há atraso! São
sempre pontuais. Existe uma fiscalização rigorosa para coibir atraso nos trens
– caso se atrasem 5 minutos, recebem uma advertência; se atrasarem 15 minutos,
uma notificação com multa; se for 1 hora de atraso, a prestadora de serviço é
excluída do quadro de colaboradores.
O
movimento nas estações começa às 6h30 da manhã e vai até perto da meia-noite. É
surpreendente ver tantas pessoas andando apressadas, de um lado para o outro.
Fazem fila pra comprar os tíquetes, para passar pela catraca, para entrar nos
trens... Pela manhã, quando o corre-corre nas estações é enorme, chegam a se
empurrar de costas para entrar nos vagões de trem. É bem policiado e todos com
uniforme, quepe e luvas brancas... sempre muito educados. Eles auxiliam os
condutores dos trens e ajudam a empurrar as pessoas dentro dos trens... Presenciei
várias situações dessas, nas estações!
A
estação de trem de Ueno é um complexo gigantesco de linha férrea e com um
shopping center na área interna. É de onde parte o trem-bala, que percorre
várias cidades. Muitas empresas administram as diferentes linhas existentes.
Cada estação tem máquinas de bebidas e quiosques de comida. Os banheiros
públicos são muito limpos e modernos, com os já descritos vasos sanitários
eletrônicos. Existe a opção de escada rolante, elevador e escadas normais.
Minha
curiosidade era andar no trem-bala, chamado de 'Shinkansen'. A sensação de
estar a 300km/hora me fascinava... Impressionante! As pessoas fazem fila para
entrar nos vagões; o comissário transita de um vagão para o outro fazendo uma
reverência, tanto na entrada como na saída. Os vagões são muito limpos, tem
compartimento de lixo orgânico e reciclável. Os banheiros são modernos com os
já citados vasos sanitários eletrônicos e tem acessibilidade para pessoas
deficientes ou mães que precisam trocar a fralda de seus bebês. A grande
maioria dos passageiros fala baixo, ou não conversa – são muito educados e
discretos. Durante a viagem, oferecem serviço de bordo pago, com bebidas e
'snacks'.
Algo
que me chamou a atenção, quando aguardava para entrar no trem-bala: quando o trem-bala
parou na estação, vi um bom número de funcionários uniformizados entrarem com
material de limpeza nos vagões, e virando os assentos ao contrário. Fantástica
a rapidez desse serviço!
Carros
e pedestres
O
que também me chamou a atenção foi o respeito dos motoristas para com os
pedestres. Para atravessar na faixa se segurança, os japoneses fazem fila. Os
ciclistas transitam entre os pedestres sem que causem acidentes, e as
bicicletas ficam estacionadas pelas ruas sem cadeado, mas também existem vários
estacionamentos pagos para bicicletas.
É
muito comum ver riquixás (jinrikisha), que são um meio de
transporte de tração humana em que uma pessoa puxa uma carroça de duas rodas e
acomodam-se uma ou duas pessoas.
Hospitalidade
Em
todos os lugares que visitamos, seja no hotel, restaurante, parques, museus,
transporte, fomos bem recepcionados com um 'Olá, sejam bem-vindos' e ao receber
o troco do pagamento feito, mostram todas as notas, fazem uma saudação e
agradecem.
Saindo
de Tóquio, a viagem continua...
Era
manhã de sexta-feira, do dia 10 de outubro, quando saímos de Tóquio em direção
a Nara, distante 350 quilômetros. Já em Nara, soubemos do perigo iminente do
Tufão Hagibs, um poderoso ciclone tropical de categoria 5, prestes a
atingir o Japão. Na TV anunciou que todas as estações de trem foram fechadas,
por tempo indeterminado, até que o perigo passasse. Infelizmente, o tufão
atingiu várias regiões e fez muitas vítimas, deixando centenas de desabrigados.
Não
bastasse essa situação, porque tínhamos planejado sair do hotel no domingo,
aconteceu o inesperado: comecei a ter dor de dente e, além do mais, minha
prótese descolou. Acredita? Acionei o Seguro-Viagem, no entanto, era final de
semana e emenda de um feriado nacional, na segunda-feira. Não havia dentista
disponível! Bom, não seria esse desconforto que me tiraria do sério, muito
embora eu estivesse bem chateada com o ocorrido. Suportei a dor contínua e o
embaraço de não poder sorrir, pois era visível a falta de dentes.
De
Nara, partimos para Nagoya na segunda-feira, pois já estavam liberadas as
estações de trem. Consegui uma consulta no dentista na manhã de terça-feira.
Ninguém na Clínica falava inglês com fluência, mas o formulário a ser
preenchido era em inglês. Foi hilário o momento em que veio uma assistente em
minha direção e fez uma pergunta – não consegui entender e imaginei que ela
falava em japonês. Era mais ou menos assim: ‘Iu batide’? Depois de 3
tentativas frustradas de entender o que estava sendo perguntado, a moça me
apontou no formulário a informação que faltava... ‘Date of Birthday’, ou
seja, ela perguntava minha data de aniversário!! Foi muito engraçado.
Nara
Contando
um pouco sobre nossa estadia em Nara, onde visitamos o parque da cidade. É uma
grande área toda arborizada e, nas proximidades da entrada principal, cervos
passeiam soltos, misturando-se aos pedestres. Alguns cervos deitam-se nos
canteiros, outros atravessam o bosque. É um cenário lindo! Algumas barraquinhas
vendem petiscos próprios para oferecer aos animais e eles se aproximam para
receber o mimo.
As
lojinhas se inspiram nos cervos para venderem docinhos, chocolate, camisetas,
chaveirinhos, enfeites de vidro, bichos de pelúcia.
Nara
foi durante o século VIII a capital do Japão, desde a sua fundação em 710 até
784. Esta época ficou conhecida como Período Nara. Oito templos, santuários e
ruínas restam na cidade, que coletivamente formam os Monumentos Históricos da
Antiga Nara, um Patrimônio Mundial da UNESCO. A arquitetura dos templos
impressiona, são todos construídos com madeira, e bastante altos.
Nos
pontos de ônibus, muito bem conservados, modernos e limpos, têm painel
eletrônico informando em temo real o horário de chegada e partida de seus
respectivos destinos. E, como em todas as cidades, quem chega vai formando uma
fila para o embarque os veículos.
Nagoya
Chegamos
à noitinha a Nagoya e, na manhã do dia seguinte, eu tinha minha consulta
marcada no dentista. Programão!!
Bom,
resolvido o problema, fomos conhecer a cidade, que também tem uma estação de
trem bem movimentada, com lojas de roupas de grife e populares, cosméticos,
livros, roupas de cama, mesa e banho, acessórios para casa. Enfim, um
shopping-center dentro da estação! Nos arredores, entrei na conhecida DAISO –
concluí que 90% do que a DAISO vende são de origem chinesa. Alguns dos produtos
são desenhados no Japão, fabricados na China e, pasmem, distribuídos pelo
Brasil, tanto que eu quase comprei pra mim um pincel de maquiagem, achando que
estava adquirindo um produto fabricado no Japão (porque o que produzem é de
alta qualidade), quando vi o rótulo tinha a indicação de que o Brasil era o
distribuidor... vai entender!! Desisti da compra.
Nagoya
é um centro comercial e industrial, bem populoso – nos mesmos padrões de
Tóquio: prédios altos com arquitetura extravagante, muitas linhas de metrô,
painéis eletrônicos, pachinkos, comércio abundante...
Visitei
The Nagoya Castle Hommaru Palace, construído em 1615. Em 1930, tornou-se
o 1º castelo designado como Tesouro Nacional. No entanto, em 1945, foi destruído
por bombas. Sua reconstrução teve início em 2009 e reaberto em junho de 2018.
No período em que fui, o palácio principal estava fechado para pequenos reparos
e somente foi possível ver o palácio anexo com réplicas das obras que fizeram
parte do acervo de pinturas do castelo, quando de sua construção original.
Estava
acontecendo em Nagoya o Festival de Outono, em que várias barracas apresentam
seus produtos artesanais: louça, doces típicos, bolsas, tamancos, roupas, obras
de arte.
Kyoto
Em
Kyoto, ficamos num hotel em que não se entra com os sapatos. Ao se hospedar,
uma funcionária limpou as rodinhas da mala e recebemos a orientação de colocar
um par de tamancos disponibilizados na entrada e para deixar os sapatos num
armário com chave.
Foi
a cidade em que mais vi as mulheres vestidas com quimono. Existem muitas lojas
alugando esses trajes, inclusive marcando sessões de fotos, tanto para
estrangeiros como para visitantes de outras regiões do Japão.
O
centro é tão agitado quanto Tóquio. Muitas pessoas nas ruas, lojas com painéis
eletrônicos e sonoros. Muitos jovens. Avenidas extensas, edifícios bem altos
com arquitetura extravagante e imponente. Maquininhas caça-prendas nas
calçadas; ‘Vend Machine’ de bebidas em cada equina; os famosos Pachinkos
com centenas de máquinas de jogos; Lojas de Departamentos com 8 a 9 andares
enormes (Don Quijote é um exemplo), vendendo todo tipo de mercadoria
possível: de fones de ouvido a bolsas Chanel e Gucci originais (acredite, se
quiser!); metrô; calçadas bem conservadas; orientação nos semáforos e calçadas
para deficientes visuais... enfim, muito parecida com Tóquio. A estação de trem
de Kyoto é um prédio de arquitetura diferenciada e muito bonita, com 12
andares. Encontra-se lojas de grife, como Empório Armani, Prada, L’occitane,
dentre tantas outras famosas. Tive a impressão de ser uma cidade mais
elitizada. Vi mulheres e homens muito bem vestidos.
Em
Kyoto, meu filho e eu visitamos Arashiyama Monkey Park, ao sul da Ponte
Togetsukyo. São 20 metros de altura, com escadas até atingir o local onde
engraçadinhos macacos da neve ficam soltos pelo parque. Do alto, tem um belo
panorama da cidade. Os macaquinhos são bem divertidos, e em determinado momento
o cuidador os chama para a refeição e todos ficam num círculo aguardando
receberem os petiscos – pedaços de maçã ou amendoins na casca. Vale o
espetáculo!
Visitamos
o bosque de bambu, famoso cartão postal de Kyoto. É belíssimo! São centenas de
bambus enfileirados formando uma paisagem espetacular. O bambu é o símbolo da
perseverança, pois leva entre 5 e 7 anos para desabrochar o 1º broto, a partir
do bulbo. Apesar de sua flexibilidade, o bambu possui uma maciça e fibrosa
estrutura na raiz, que se estende horizontal e verticalmente pela terra, e pode
atingir até 25 metros de altura.
Outra
atração interessante foi a visita à exposição do Gion Matsuri Festival, que é
um desfile de 33 carros alegóricos (conhecidos como museus ambulantes), e
acontece anualmente, entre 17 e 24 de julho. Na exposição, tem um painel
digital com 6 telas formando uma única imagem, em que passam vídeos de
Festivais anteriores. Um dos carros usados durante o Festival fica exposto
permanentemente. São bem altos, podendo atingir 25 metros de altura e pesando
12 toneladas, com vários andares amarrados com corda e enfeites flutuantes.
Tivemos,
ainda, a oportunidade de ir à Fundação de Arte Musical Tradicional de Kyoto
“Ookini Zaidan. Com 2 horas de duração e o teatro lotado, assistimos à
programação simultânea: Chado (Cerimônia do Chá); Harpa Japonesa Koto; Kado
(Arranjo de Flores); Música da Corte Gagaku; Teatro Cômico Kyogen: Dança
Kyo-mai e o Teatro de Bonecos Bunraku. Bonito de se ver e apreciar!
Hiroshima
Não
poderia deixar de visitar esta cidade, onde está localizado o ‘domo’, que é a
única construção que restou quando do evento da bomba atômica, em 6 de agosto
de 1945, tendo sido a primeira cidade do mundo arrasada pela bomba atômica de
fissão denominada Little Boy, lançada pelo governo dos Estados Unidos, e
resultando em 250 000 mortos e feridos.
Diariamente,
estudantes vindos de outras cidades do Japão prestam homenagem diante dos
monumentos que foram construídos no espaço em que a bomba destruiu parte da
cidade. É comovente e emocionante. O respeito dos visitantes é visível. Alguns
dos sobreviventes, que ainda estavam no útero de suas genitoras, expõe fotos e
contam a história vivenciada pela família. É uma forma de mostrar para todos de
jamais esquecer o que aconteceu, sem, no entanto, cultivar o ódio.
No
Museu Memorial da Paz de Hiroshima ficam expostos documentos, fotos, acessórios
e painéis simulando a cidade como era antes da explosão e os danos causados
quando atingiu a cidade.
Mishima
Um
dos pontos turísticos que eu fazia questão de visitar era o Monte Fuji.
Partimos, então, para Mishima, que não é uma cidade turística, mas bem próxima
do Monte Fuji. Ficamos hospedados num outro tipo de albergue, desta vez
dormindo no tatame – confesso que é um pouco desconfortável, mas eu queria
conhecer essa experiência. Os banheiros ficavam fora do quarto e os chuveiros
em outro andar – lembrei-me da mesma dinâmica do hotel cápsula, quando cheguei
em Tóquio!
A
cidade é muito bonitinha, bem diferente das grandes cidades visitadas
anteriormente. Nos postes de iluminação vi vasinhos floridos. As calçadas são
uniformes e tem o mesmo desenho e, claro, orientação no piso para deficientes
visuais. Avistei alguns prédios, de até 3 andares. Tem poucos painéis
eletrônicos e o trânsito nas ruas é bem tranquilo. Passa um córrego que atravessa toda a cidade,
originado do degelo do topo do Monte Fuji. Os restaurantes são pequenos e tem
as lojas de conveniência, os famosos ‘Konbini’.
Bem,
a proposta era visitar o Monte Fuji. Estávamos bem próximos da estação
rodoviária e pegamos um ônibus para ir até Mishima Skywalk – uma ponte estaiada
de 400m de comprimento, considerada a maior ponte suspensa do Japão. Na
estrada, teve um ponto em que o Monte Fuji pode ser visto em todo seu esplendor
– é mesmo muito bonito.
O
dia estava meio chuvoso e, na entrada, nos ofereceram capas de chuva para
vestir, pois guarda-chuvas são proibidos por conta do vento forte que faz sobre
a ponte. A paisagem é linda! Tivemos sorte, pois o sol despontou e o Monte Fuji
ficou bastante visível – parece uma pintura no céu, por causa de sua simetria
inconfundível. No local tem tirolesa e arborismo. Pudemos caminhar pelo bosque,
apreciando do alto a flora magnífica da região. Um sonho!
No
dia seguinte, fomos ao Parque de Diversões do Monte Fuji (Fujiky-Highland). O
dia estava ensolarado e pudemos nos divertir nos brinquedos. A montanha-russa
maior estava fechada para manutenção, no entanto, a outra não deixou nada a
desejar – causou tanta adrenalina como imagino que a outra causaria!! Uma
aventura ímpar!
De
volta a Tóquio
Depois
dos passeios de trem, voltamos a Tóquio onde ficamos num Hostel (mais
uma experiência diferente). O Hostel (ou albergue) é um tipo de
acomodação que se caracteriza pelos preços convidativos e pela socialização dos
hóspedes, onde cada convidado pode arrendar uma cama ou beliche, num dormitório
partilhado, com casa de banho, lavandaria e cozinha. Permanecemos os últimos 3
dias no Japão, tempo suficiente para comprar algumas lembrancinhas para
parentes e amigos; participar de uma Cerimônia do Chá, visitar o Museu Nacional
de Ciência e Inovação e presenciar um Festival de Rua com músicas e danças
típicas.
Cerimônia
do Chá
Uma
das práticas culturais da tradição japonesa que eu queria presenciar era a
Cerimônia do Chá, a arte de preparar e tomar o chá, aliado à espiritualidade,
história, arquitetura, e o uso de utensílios artesanais.
Marcamos
o horário e fomos recebidos por uma japonesa à caráter, que falava inglês
fluentemente. Tem todo um ritual para a cerimônia. Primeiro, fui levada para o
camarim, onde a anfitriã me ajudou a me preparar. Vesti uma calça e uma
camiseta, para depois vestir o quimono. É bem trabalhoso vestir, porque tem
camadas de tecido que transpassam de um lado para o outro e, nas costas, é
feito um laço. Meu cabelo foi preso, e escolhi uma bolsa para entrar na sala
onde aconteceria a cerimônia. Meu filho também vestiu um quimono.
Primeiramente,
a anfitriã conta sobre a origem do chá, que era plantado na China, e um monge
trouxe para o Japão há 800 anos. Daí, o preparo do chá começa. É um ritual bem
meticuloso e ritualístico. Existe todo um cuidado no manuseio da louça e
utensílios próprios na preparação do Matcha, o chá verde. Os princípios da
Cerimônia são Wan: Harmonia; Kei: Respeito; Sei: Pureza e Jaku:
Tranquilidade. Nos
foi oferecido um biscoitinho adocicado para contrastar com o sabor mais amargo
do chá. Fiquei encantada que até comprei o batedor e o chá verde para preparar
seguindo o mesmo ritual, quando de volta para casa.
Museu
Nacional de Ciências e Inovação
O
museu também é conhecido como Museu Miraikan e está localizado em Odaiba,
voltado para inovações na robótica, informática, medicina e exploração
espacial. Também há pequenas áreas dedicadas a temas como o cosmo, a detenção
dos terremotos ou a exploração submarina.
Tivemos
a chance de ver a apresentação do famoso robô da Honda, o Asimo. É
impressionante a capacidade de movimentos e interação desse protótipo!
Sua
exposição explica conceitos complexos e proporciona alguns experimentos,
disponibilizando textos em japonês e inglês, já que é um museu interativo.
Possui
a maior réplica do mundo do globo terrestre em alta resolução, o Geo-Cosmos que
exibe eventos quase em tempo real do clima, temperatura do oceano e vegetação.
A tela do Geo-Cosmos tem 10.362 painéis OLED, cada um com 96 x96 mm de tamanho.
Imponente!
Tivemos
a chance de andar no protótipo da cadeira de rodas elétrica, da Honda – bem
prática! A cadeira possui um alcance de 20 km com uma única carga e pode ser
carregada totalmente em menos de duas horas. Ela pode ser conduzida com o
movimento do corpo. Funciona bem em diferentes tipos de superfície e, ao mesmo
tempo, permite pequenos giros, suficientes para a pessoa se locomover para os
lados.
Último
dia em Tóquio
Na
véspera de pegar o voo para Dallas, tive o privilégio de assistir a um desfile
público de danças e músicas folclóricas de várias regiões do Japão. Aconteceu
nas proximidades do Tokyo Square Garden, uma grande avenida no centro da
cidade. Mesmo com uma multidão no entorno, ninguém invadiu a pista, todos
faziam silêncio quando passava o desfile e, ao término, nenhum papel ou sujeira
nas ruas... Fabuloso o comportamento cívico da população e o orgulho que eles
transmitiram ao realizar o desfile!
Aproveitamos
para visitar uma feira de artesanato que acontecia no mesmo local, e fizemos
nossa última refeição no Japão, num dos restaurantes da região, com direito a
saquê e um prato mais requintado, preparado pelo Chef, na nossa frente.
Meu
olhar sobre o Japão
Antes
de viajar, eu já tinha ouvido que o Japão é um dos países mais seguros do
mundo, sendo possível baixar a guarda ao visitar o país. E, de fato, para
conhecer o Japão é preciso visitá-lo para entender sua cultura e constatar que
é o país mais respeitoso do mundo, argumento usado por meu filho quando me fez
o convite para viajarmos juntos para esse país fantástico.
Como
visitante, conhecer o Japão foi uma experiência maravilhosa. Em sendo Personal
Organizer que sou, visitar o Japão foi uma satisfação, pois constatei que é um
país bastante organizado, limpo e extremamente tecnológico.
Fiquei
fascinada com a hospitalidade, educação, limpeza, organização, ruas planas e
avenidas extensas, com calçamento e paisagismo padronizado, as faixas de
segurança bem definidas, semáforos sonoros e vasinhos de flores na frente das
casas. Essa é a imagem do Japão que ficou em minha mente.
Os
residentes são muito discretos, meio tímidos, se vestem com elegância, são
preocupados com a higiene pessoal e dos ambientes, e bastante sorridentes. As
mulheres são meio infantilizadas, mas essa é uma característica de um
comportamento aceitável dessa sociedade e faz parte da cultura, tanto que nas
lojas ouve-se músicas infantis o tempo todo. Tudo que se vê é delicado e
bonitinho. As docerias apresentam embalagens muito graciosas. É tradição
presentear familiares, amigos e colegas do trabalho com doces.
Em
relação ao comportamento dos japoneses, por serem bem discretos e, por vezes,
envergonhados, é muito comum ver as mulheres colocarem a mão cobrindo a boca,
ao rirem – faz parte da cultura japonesa. Evitam o contato físico, e quase não
se vê casais de namorados de mãos dadas ou amigos se abraçarem ao se encontrar.
No metrô, pedem licença ao se sentarem ao lado de outras pessoas. Dentro dos
vagões do metrô, dos trens ou dos ônibus fazem o trajeto em silêncio –
raramente conversam entre si – na maior parte do tempo ficam concentrados no
celular e os que não estão com o celular ligado estão cochilando. Os homens não
são muito gentis em ceder lugar para as mulheres nos trens.
Tóquio,
Nagoya, Kyoto são cidades populosas, meio barulhentas por conta do turismo, a
infinidade de jogos eletrônicos e outdoors sonoros e visuais. São
cidades bem movimentadas, com muitos restaurantes e templos – o novo e o antigo
misturando-se às luzes dos painéis nos prédios de arquitetura futurista e que
refletem a modernidade e hábitos, seja no uso de trajes diferentes, casas que
oferecem meninas como acompanhantes em plena luz do dia, maquiagem curiosa
(meninas de lente de contato azul e cabelo colorido, rosto pintado de branco
como gueixas), muitas vezes incompreensíveis a nós ocidentais, mediante a
tradição milenar japonesa de prezar pela harmonia do corpo e mente, preservação
da Natureza e o silêncio das cerimônias, que faz tão bem à alma. No entanto,
bizarrices existem em qualquer lugar e que fogem à nossa compreensão!
Finalizando
esta postagem, lembrei-me da canção Imagine, de John Lennon, em que diz:
‘Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz! Imagine todas as pessoas
compartilhando o mundo inteiro!’
Muito
embora todo ser humano seja igual em sua essência, me pergunto se países com
culturas tão diversas conseguiriam ter uma linguagem única e viver em paz. Ou
seria eu uma sonhadora?